EPOPÉIA DO ESGOTO
Uma barata lambe os meus pés.
Ela desce.
Ela enxerga no escuro
minhas mágoas,
minhas fezes.
Ela ingere meus pedaços
de mentira,
de pigarro.
Ela beija a minha pele
carcomida sob os ralos.
Ela anda sobre as horas
vomitadas pelo acaso.
Reconhece na descarga
os meus dias infecundos.
Ela sobe pelos muros
de tijolos e recato.
Arremete cada passo
de encontro ao absurdo.
Ela tece umas redes
obscuras com os ratos.
Enaltece essas traças
cujos corpos eu expurgo.
Sua deixa é o descaso,
sua casa é o debaixo,
sua lide é a sujeira
recusada pelo mundo.
Trinta anos de chumaços
de cabelo nos separam.
E conquanto a desconheça
pelos cantos do meu quarto,
ela sabe cada verme
que aguarda meu cadáver.
Ela agora é um pronome
definido,
desinfecto,
chafurdando na limpeza
do silêncio das palavras.
E ainda desatenta
ao sujeito,
aos dejetos,
ela aceita por completo
toda a vida que eu rejeito.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
POEMA PARA UM DIA SÓ
Hoje eu morri mais cedo.
(Tenho pressa do poente.)
As curvas das horas em volta de mim.
A noite amanhecera à tarde;
O céu me observava estranho;
Você me conheceu já ido.
Ontem nascerei de novo.
Certo de não ser bem-vindo.
Tudo quase meio torto,
O dia restará no início;
As sombras restiarão meu corpo;
O tempo não fará sentido.
Hoje eu morri mais cedo.
(Tenho pressa do poente.)
As curvas das horas em volta de mim.
A noite amanhecera à tarde;
O céu me observava estranho;
Você me conheceu já ido.
Ontem nascerei de novo.
Certo de não ser bem-vindo.
Tudo quase meio torto,
O dia restará no início;
As sombras restiarão meu corpo;
O tempo não fará sentido.
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