terça-feira, 16 de novembro de 2010

"FUGIT IRREPARABILE TEMPUS"

O doce lamentar das horas nuas,
Pulsando entre os dedos do poeta,
Afaga-lhe a mente irrequieta,
Guiando-lhe em meio a terras cruas.

Repousam nessas terras, todas suas,
Verdade e mentira em linha reta,
Em versos cuja rima incorreta
Repousam, lado a lado, sóis e luas.

O lento murmurar de nossos anos,
(Promessa que descumpre e desacerta)
Carrega incontido tantos danos;

Fratura muito mais do que conserta,
Moendo e misturando nossos planos,
Machuca, purifica e nos liberta.

sábado, 6 de novembro de 2010

EUS

Eu tenho outros cantos fora estes bem vistosos,
Tão feitos de engano, de poeira e acaso
Tão tidos por bobagem, por saudade, por atraso -
Espelho embaçado pelos anos desgostosos.

Eu visto outros panos sob estes cá lustrosos.
Encobrem uma pele carcomida pelo ocaso,
Resquícios de um poema versejado com descaso,
Fracasso não vertido pelos olhos invejosos.

Eu temo outra gente fora esta que me acusa;
Ressinto outras chagas longe desta que me sangra;
Eu calo outros medos que a palavra não alcança.

Sou esse meio-termo entre o golpe e a escusa,
Qual praia inabitada, meio escarpa, meio angra,
Na luta sou quem foge, na paz eu sou a lança.