domingo, 13 de junho de 2010

ENTRELINHAS

Cada passo é mais um traço
Nessa areia, nesse espaço
Entre mim e tantos dias

Cada gesto é indigesto,
Um pedaço de protesto
Contra os laços da inércia

Cada rosto tem seu gosto,
Traz um pouco de agosto –
Doce tempo já amargo

Cada grito em agonia
Aproxima e distancia
O silêncio e o espasmo

Cada beijo, um cadafalso,
Uma rima no encalço
Da poesia não escrita

Cada gozo em vão segredo,
Um romance sem enredo,
Nossa culpa em carne crua

Cada um em cada canto,
Com mentiras e encanto,
Nos escreve um grande texto

Minhas linhas eu iludo
Num desejo quase mudo
De morrer sem tradução