quinta-feira, 21 de junho de 2012


SE MEU GRITO

Se meu grito me coubesse,
o meu sopro seguiria essas nuvens entre os nomes.

Comunico-me aos poucos.

Sinto falta do mistério que habita esses anos
entre o olho e o fastio.

Sou uns verbos do passado conjugados no ausente.

Tive quase toda a vida resumida pelo som
de uma tarde terminando.

Se meu grito me soubesse,
o meu rosto se faria uma linha no horizonte.

segunda-feira, 11 de junho de 2012


MEU VERSO
Para Flavinha e Bel

Meu verso é só um gesto
de procura
de abrigo.

Nas esquinas dessas linhas,
nessas dobras do vazio,
eu cultivo em segredo
uma rima impossível.

Eu desenho nas calçadas
o teu rosto se esvaindo;
contraceno umas peças
com as nuvens dançarinas.

Faço o mundo minha lauda.
Faço tudo por pirraça:
me travisto de palavra,
de ausência perfumada,
de silêncio diluído.

Nas esquivas dessas vidas,
nesses dias que são rios,
o universo coube um gesto
de carinho arrefecido.

E meu verso, só um traço
tatuado no espaço
entre a dor e o alívio.

sábado, 2 de junho de 2012


A VIDA EM TRÊS TEMPOS

Tua boca teve o peso
que se tem toda manhã
de voltar a ser o mesmo,
de sair do sonho bom.

*
Nossos dias têm o meio
infestado pelo sol,
essa luz que aborrece,
essa fuga do segredo.
  
*
Já desfaço minhas noites
em pedaços de oceano,
no descame do descanso,
no retorno do degredo.