segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

(Ex-moradores da comunidade Pinheirinho, São José dos Campos - SP. Após a desocupação pela Polícia Militar, algumas famílias se refugiaram em uma igreja. Alguns dias depois já estavam expulsos de lá também.)


PRECE

Seja tua a minha dor pelo tempo deste verso,
que a palavra no reverso é procura e

desencontro.

(Que seria senão isto: o vazio preenchido
com os dias,
com os rios,
com o cheiro do silêncio... ecoando nas retinas?)

Seja pele a minha letra no roçar de tua vista;
tu insista,
me alcança
entre a tinta e o papel,
entre o mesmo e a mudança.

Sobre a vaga celulose universos me disputam.
Não pertenço – permaneço
à espera do chamado
de outras vidas,
outros mundos.

Seja som a minha ausência no momento mais propício
ao carinho,
ao suplício,
ao encontro que marcamos.

O sorriso é nossa rima;
o arquejo metrifica
nossa lide,
nossa sina
assassina.

Seja só um estribilho meu bramido
por socorro;
seja toque a minha prece
no teu corpo;

Seja toda a existência um minuto de poesia.
Eu pereça a cada estrofe,
e renasça em teu ouvido.

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