quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SONETO AO AMIGO FAGNER

Eu sou, no final, quem decido não ser.
Tão só me componho de todos os nãos,
Tal que me preencho com todos os vãos
Das coisas que o dia não veio trazer.

Sou eu, afinal, quem está por morrer
Com tantos pecados inteiros nas mãos,
Um corpo sangrado por muitos esvãos,
Um gôzo indeciso de culpa ou prazer.

Meu nome estará enrolando vitelas
(Na triste sessão dos famosos defuntos).
Então, serei tema de muitas querelas

Acerca da vida e de outros assuntos.
Mas não haverá quem em meio às velas
Me entenda melhor que os vermes adjuntos.

2 comentários:

  1. Lindo, lindo Léo.
    Fico feliz qnd vc atualiza sei q vem sempre coisa boa.
    www.vanessamonique.blogspot.com
    :*

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  2. É um grande privilégio ser homenageado em um poema de Léo Ventura (vcs sabem quem é Léo Ventura? rs.) Mas é uma felicidade misturada com certa melancolia em ver-se perfeitamente retratado em tal obra de arte. (É um tipo de sentimento híbrido que só sinto quando leio dos Anjos). Deleuze dizia que o artista é aquele que consegue captar algo (no "ar", no "clima") que ninguém mais consegue, adiantadando tendências, epocas, caminhos, que ainda estão por se cristalizar, às vezes gerações depois. Acho isso também, como acho que capta sutilezas, minúcias, imperceptíveis à grande maioria das pessoas. Acho que você é assim também. Basta ouvir suas músicas ou ler seus poemas. Parabéns. Vou republicar.

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