segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Daqui a 25 anos, terei 57. Portanto, 25 anos para fazer a minha obra e encontrar o que procuro. Depois, a velhice e a morte. Sei qual é o mais importante para mim. E encontro, ainda, o meio de ceder às pequenas tentações, de perder tempo em conversas vãs ou passeios estéreis. Dominei duas ou três coisas em mim. Mas como estou longe dessa superioridade de que tanto necessito. (CAMUS, Diário de Viagem)


Não tenho 32 anos. (Ainda.) Mas, lendo Camus, sinto como se tivesse. Não é que eu me pense mais velho, ou mais novo, do que realmente sou, e sim como estivesse preste a começar algo que valerá por toda a minha vida. Algo absolutamente meu. O fato de não saber dizer exatamente o que (nem exatamente quando) apenas reforça essa sensação de “espera”, como um traço essencial, um estado do ser. Aos poucos, o amanhã vai se tornando um refúgio, um lugar seguro contra todos os medos, todas as culpas. Ali, todos os erros se justificam. Para lá, converge toda a minha existência. Aos poucos, eu me torno essa distância de mim mesmo, uma dúvida prolongada nos dias, meses, anos, um vazio sem forma definida.

Há uma cronologia interessante nas palavras de Camus: “Daqui a 25 anos terei 57”. Por volta dos 30 anos é bem a idade em que a maioria dos grandes românticos encontrou seu fim, de certa forma, deixou seu “casulo”. Para seus filhos, no século XX (que não morreram de tuberculose), restou, a partir daquela idade, um sentimento de incompletude, de algo por realizar, como se a verdadeira mudança estivesse por vir, a redenção final por si próprios. Restou a espera.

"Complexo de pupa" é uma sídrome que diagnostiquei em mim mesmo, há um bom tempo. Uma ânsia constante de ser um outro alguém; de alcançar outros limites; de reinventar-se a cada sol. Esse blog pretende ser parte dessa invenção.

2 comentários:

  1. Parece que 2010 começou bem.
    Que dessa espera que resta, ainda sobre palavra. (e que desague aqui)
    um beijo.

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  2. Uma delícia seu texto em referência a Camus. Parabéns.

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