sábado, 9 de janeiro de 2010



PELE MORTA

Prosa, poesia, vida minhas
(Tudo versejado em tortas linhas),
Seguem me espargindo pelos cantos;
Tecem numa trama os desencantos;
Somam-se de coisas bem mesquinhas

Restos dessas coisas, desses prantos
Soam nas esquinas dentre tantos
Prédios, avenidas, muros, bares,
Fartos dessas vidas angulares,
Seita, de outros deuses, outros santos

Sobre os seus ásperos altares
Curvo-me aspergindo meus pesares
(Sobras que se soltam vez em quando,
Seixos que se lançam sem comando,
Salto de sementes pelos ares).

Nuvem quase solta, vento brando;
Noites carcomidas, som nefando
Soa pelas bocas destes vermes
Tristes, mastigando em epidermes
Sonhos que se soltam, descascando.

Esses, que se tornam vossos germes
(Sonhos de que falo, não dos vermes),
Vedam vossos olhos com poeira,
Causam-vos torpor pela coceira,
Frustram vossos corpos já inermes.

Versos aparados pela beira,
Cílios exsicados na cegueira,
Silvos do silêncio na paisagem,
Mescla de cimento e de folhagem,
Crescem, dando o nome que se queira,

Formam esse musgo sem imagem,
Denso, esquivado na paragem;
Fosco pela luz que lhe aquece;
Sempre recolhido pela prece,
Misto de visão e camuflagem.

Prosa, poesia: minha messe –
–Tudo que descama e apodrece –
–Seca em minhas veias, aquieta.
Há de ser eu mesmo que a dejeta?
Ou ela que me deixa, me esquece?

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